O município de Alenquer procedeu esta terça-feira à alienação em hasta pública da antiga Fábrica de Lanifícios Chemina pelo valor de 1 milhão e 110 mil euros, à imobiliária Sunshine Life – Investimento Imobiliário, Unipessoal Lda.
A hasta pública, lançada em novembro do ano passado, contou apenas com a proposta vencedora, que terá agora de apresentar o projeto de execução das obras, sem o qual não será celebrada a escritura final de venda.
Nos termos da hasta pública, o vencedor fica obrigado a construir ali uma unidade hoteleira com SPA e aparthotel e a manter a traça arquitectónica da fachada da antiga fábrica.
O projeto terá, também, que contemplar um auditório que deverá ser cedido durante 20 horas mensais ao município alenquerense.
Ainda de acordo com o caderno de encargos, o adjudicatário terá de iniciar as obras no prazo de 3 anos e meio, após o qual serão aplicadas sanções no valor de 50 mil euros anuais. Se no prazo de 5 anos o projeto não avançar, o município terá o direito de pedir a reversão do edifício. As expetativas, contudo, são que a obra avance em coordenação com as obras do PEDU, que preveem a requalificação de toda a zona envolvente.
O presidente do município de Alenquer, manifestou-se satisfeito com a conclusão da hasta pública, e considera que estão “finalmente reunidas as condições para devolver este edifício histórico à vila de Alenquer”, disse.
“A fábrica da Chemina tem um valor inestimável pela sua história, mas também pela forma como fez parte da vida de tantas gerações de alenquerenses e por isso é com muita satisfação que após tantos anos de impasses, concluímos com sucesso a hasta pública que vai permitir a recuperação integral do edifício”, afirmou o presidente.
“Depois consideramos que a construção de uma unidade hoteleira vem ao encontro de uma necessidade da vila e do concelho, até porque apesar de nos últimos anos terem vindo a surgir cada vez mais unidades de alojamento local, são ainda claramente insuficientes, quer para sustentar o turismo, que vimos encarando como um investimento estratégico e estrutural, quer também para aumentar a dinâmica económica no concelho de Alenquer, que passará a ter uma maior capacidade de receber e reter quem nos visita”, acrescentou.
História

Fundada por uma sociedade em comandita, a COMPANHIA DE LANIFÍCIOS DA CHEMINA ficou a dever-se à iniciativa dos irmãos José Joaquim e Salomão dos Santos Guerra, depois gerentes do estabelecimento. Com projeto de José Juvêncio da Silva – que também projetou os Paços do Concelho – começou a edificar-se em abril de 1889, em terrenos da antiga quinta ou Casal da Chemina, de onde adotou o nome. Foi inaugurada em junho de 1890. Pouco tempo depois empregava 200 operários de ambos os sexos e fabricava, entre outros produtos, xales, casimiras, castorinas, cintas, barretes e cobertores. Ao contrário das fábricas suas contemporâneas, opta apenas pela força de uma máquina de vapor, quando a sua situação, junto do rio, lhe poderia proporcionar o uso do sistema hidráulico. Pouco tempo mais tarde a sociedade proprietária transforma-se em sociedade anónima. Boa parte do capital está nas mãos de industriais e banqueiros do Porto, como Cândido Ribeiro da Silva e Carlos José Alves. José e Salomão Guerra, para além de gerentes da fábrica, asseguravam a chefia das secções de acabamento e tecelagem. Antes da fundação da Chemina, haviam exercido idênticos lugares nas fábricas da Romeira e “do Meio”, razão porque terão deixado a sua terra de origem, Arrentela, concelho do Seixal, outro importante centro de produção de lanifícios. Meio século depois da fundação, em 1940, a FÁBRICA DE LANIFÍCIOS DA CHEMINA, S.A.R.L., continua a fabricar os mesmos produtos. Tem sede no Porto, na Rua Formosa, e a gerência está ainda confiada a um Guerra, Isidoro de Castro Guerra, sobrinho dos fundadores. Mas em 1948 é já outra empresa que explora o estabelecimento. Chama-se então FÁBRICA BARROS, LDA.. Por pouco tempo. Entre 1949 e 1952 permanece fechada, até que se forma outra empresa que a adquire: a EMPRESA LANIFÍCIOS TEJO, LDA., que a reequipa e põe a funcionar. Em 1977 emprega 160 trabalhadores. Em 1994, à beira do fecho definitivo, ocupando apenas parte dos edifícios, emprega apenas 15 a 20 operários. Os prédios são hoje propriedade municipal. Em 2000, o edifício principal sofreu um violento incêndio.